Começar do começo...

"Como qualquer história que se preze, vou começar contando a nossa do início...

Sou mãe de dois rapazinhos, que dão sentido a minha vida.
O Heitor é meu filho mais velho. Ele foi uma criança muito, muito esperada, desejada, amada, meu presente de Deus. Veio para me salvar e conseguiu totalmente. Minha vida mudou radicalmente depois da chegada dele. Quem me conhece a fundo sabe da grandeza e da importância que ele teve na minha vida. Ele me salvou!!! E, acredite, isso não é mera força de expressão!

O Heitor nasceu lindo e sempre foi um anjo de criança: super tranquilo, não chorava por nada quando era bebê. E foi crescendo sempre bonzinho, um ótimo desenhista e ama jogar futebol. Sempre o achei diferente, especial... Sei lá como explicar, mas parecia que eu sabia que ele tinha alguma coisa diferente das demais crianças. 

Então, veio o meu segundo grande presente. De surpresa, chegou o meu caçulinha. Meu loirinho sempre foi o contrário do Heitor: cheio de vida, de manias, de vontades. Muito apegado a mim, não me desgrudava por nada. Exigente, tinha urgência de estar sempre grudado comigo.

Eu não poderia ter dado presente melhor para os meus filhos que um irmão: os dois estão sempre juntos, se protegendo, brigando, brincando...

Nós três sempre moramos na casa da minha mãe (com exceção de um curto intervalo de tempo que morei com o Du). Nunca tive pretensão de sair da casa da minha mãe. Lá eu me sentia protegida, cuidada. Eu amo ser filha, morria de medo da possibilidade de perder a minha mãe. Hoje, convivo com a ideia de que posso perder um filho. Fui obrigada a crescer num curtíssimo espaço de tempo: tive que me mudar, ficar longe da segurança da minha mãe, tive que aprender no tranco a me virar longe dela.

Aliás, a vida sempre foi assim comigo: sempre que eu tinha algum plano, a vida vem e mostra que faz o que bem quer com a minha vida. 

Já estava tudo muito bem planejadinho na minha cabeça: Du sai da clínica, nós voltamos a namorar, comemoramos nossas coisas, viajamos, noivamos, casamos, como gente normal. E viveríamos uma vida pacata, no interior.

Foi aí, nesse ponto do meu sonho, que tudo mudou... 

Heitor nunca gostou de comer. Sempre foi uma luta pra que ele comesse. Apesar disso, sempre foi uma criança ativa. 
Acontece que de uns tempos pra cá, eu notava que ele estava se cansando rápido demais. Eu atribuía isso a sua pouca alimentação. Até que ele começou a se queixar de dores na barriga.  Eu o levei no pediatra de plantão e, como Heitor estava bem, brincando com o Otavio, o médico me disse que as supostas dores de barriga eram só pra chamar a minha atenção. Voltei no dia seguinte e indaguei ao médico se não podia ser Infecção Urinária. 

Fizemos o exame, que deu positivo. 

Começamos o tratamento, mas as dores não diminuíam e eu não achava que aquilo era normal... Numa noite, fui rezar com ele e meio veio uma ideia, um “sopro”: “Meu Deus, será que ele tem um tumor?” Nessa mesma noite, enquanto dormia, ele gemeu de dor. Eu o peguei às 4h da madrugada e o levei para o hospital. O médico era o mesmo que tinha diagnosticado a Infecção Urinária. Ao apalpar a barriga do Heitor, ele sentiu uma massa. 

De imediato, providenciou o internamento e passou uma bateria de exames.

À medida que os exames iam sendo realizados, os meus medos iam tomando forma... Cada resultado me deixava mais apavorada. Até que a doença recebeu um nome: Tumor de Wilms. 

Esse foi o primeiro diagnóstico dado à doença do Heitor. Pelo pouco  que eu soube acerca desse tumor, vi que era um tumor frequente na infância e que as chances de uma cura rápida eram altíssimas.

Viemos pra São Paulo e as coisas começaram a mudar... E pra pior... O diagnóstico mudou para neuroblastoma. Um tumor localizado acima do rim. E mais exames eram feitos e os resultados não eram os melhores: descobrimos que o câncer está no estádio 4 e que já atingiu a medula.

Sendo assim, tomamos conhecimento de que não deveríamos voltar para a nossa cidade, nem a passeio, visto que, caso ele precise de assistência médica de urgência, não terá o suporte numa cidade de interior... E até mesmo porque uma viagem assim o deixaria debilitado.

Do choque à luta, a quimioterapia foi iniciada de imediato. Os médicos nos alertaram que seria uma quimioterapia bem pesada. E assim está sendo... Nós passamos os dias entre o hospital e a casa de parentes, que nos abriram as portas e nos acolheram com todo o amor possível e por isso lhes serei eternamente grata. 

Agradeço ao Du por estar comigo nessa luta e estar se mostrando o melhor pai do mundo para o Heitor. Agradeço a minha mãe por estar cuidando da minha outra joia preciosa e por tudo que representa na minha vida e dos meus filhos. Agradeço aos meus amigos que sinto sempre ao meu lado (mesmo que a longas distâncias) e agradeço a Deus, por ter me presenteado com um filho tão especial capaz de enfrentar esse grande problema sempre com um sorriso no rosto. 

Filho, você salvou a minha vida. Agora é a minha vez de salvar a sua. E vou conseguir!! É so questão de tempo, paciência e fé.