domingo, 1 de setembro de 2013

Direito de resposta.......

Olá amigos! Essa semana foi bastante difícil para mim, fui bastante cobrada com relação às postagens que fiz nos últimos dias... muitos me disseram que deveria tomar mais cuidado com o que escrevo, pois as pessoas buscam forças em mim e que meus desabafos talvez pudesse desmotiva-los... digamos então que esteja usufruindo do meu "direito de resposta"....

Ha pouco mais de 01 ano ou exatos 412 dias, fui literalmente lançada em um mundo do qual nunca sequer imaginei que pudesse existir. Sempre vemos filmes e novelas abordando o assunto de pessoas que sofrem de CA e ficamos sentidos, sensibilizados, achamos uma judiação, mas NUNCA imaginei que essa tal situação um dia pudesse estar sendo vivenciada por mim. Eu que vivia em uma cidade de 25.000 habitantes, e de repente, sem qualquer tipo de escolha, me vi obrigada a deixar tudo para traz, me vi sem meu quarto, meu conforto, meus amigos, o colo de minha mãe, entre tantas outras coisas que me embargam a voz só de pensar. Me vi obrigada a assumir uma casa, a escrever minha história e dos meus filhos na 9ª cidade mais populosa do mundo... 
Deixei de ser a filhinha da mamãe (apesar de já ser mãe de 02) e passei a exercer unica e exclusivamente o papel de MÃE. Mas não aquela mãe "normal", que acorda pela manhã, prepara o lanche dos filhos, deixa eles na escola, vai para o trabalho, passa o dia com saudades, pega na escola, prepara a jantar, vê a lição de casa, brinca de jogar bola na rua, pega pega e esconde esconde, coisas normais que se fazem com filhos pequenos. Me tornei uma mãe que se viu obrigada a aprender a lidar com as limitações que essa doença tão cruel nos impõe. Ao invés de levar o meu filho para a escola ou para o parque, acordamos cedo para ir para o hospital, não o seguro no colo para fazer cócegas mas sim para colocar acesso venoso, fazemos as malas não para viajar de férias mas sim para ficarmos internados, escolhemos nossos passeios não pelo que é mais legal de fazer e sim por onde teremos menos exposição a agentes nocivos. Neste período, vivenciamos muitas lutas,  não vimos muitas batalhas serem ganhas, mas sim muitas guerras serem perdidas. Desde o dia em que recebemos o diagnóstico do Heitor, não há um único dia em que não sofra. Fui obrigada a aprender a viver um dia de cada vez, a dar um passo depois do outro, a praticar a paciência a cada minuto. Minha existência passou a ser secundária, minhas vontades ficaram em segundo plano, e todos os meus passos passaram a ser conduzidos conforme as possibilidades do Heitor. Eu e o Eduardo não eramos mais um casal quando tudo isso começou, mas passamos a morar juntos novamente, de forma a poder proporcionar ao Heitor um melhor ambiente familiar.

Sou uma mulher que tem medos, sofro de cólica, dor de cabeça, unha encravada, TPM, fico de mau humor, e muitas vezes da uma vontade danada de sumir no mundo e nunca mais aparecer. Meus filhos fazem manha, choram pra dormir e para acordar, deixam brinquedos espalhados pela casa, dão trabalho para comer e tomar banho. Minha convivência com o Dú por muitas vezes é difícil, e por outras tantas quase impossível... Mas tudo bem né, como dizem por ai, miséria pouca é bobagem... rs....

Estamos em uma fase muito difícil do tratamento, nos preparando para o transplante. Diariamente somos expostos a situações limites, a espera por uma vaga, o pavor de uma recaída... vemos diariamente crianças que se submeteram ao transplante tendo o retorno da doença, isso sem contar aquelas que infelizmente não conseguiram vencer, deixando em seus pais um vazio que nunca nada nem ninguém poderá preencher.

Neste período, fortaleci muito a minha fé, me apeguei a Deus com todas as minhas forças, mas não consigo aceitar com resignação o sofrimento de meu filho, assim como o de tantas outras crianças e tantas outras mães. 

Nossa história não é uma novela onde eu posso reescrever os capítulos, mudar o destino dos personagens e tirar as partes que não são assim tão legais. Não sou e nunca serei mártir. Me revolto, fico indignada, não aceito e nunca aceitarei a realidade em que fui lançada. É muito difícil aceitar que a expectativa de vida de seu filho esta intimamente ligada a quanto dinheiro você mantém em sua conta bancária. Tive que deixar o orgulho de lado, pedir e aceitar ajuda, e podem acreditar, isso não é fácil!!!!

Sou e sempre serei eternamente grata por toda a ajuda que recebi neste período, mas nunca vou agradecer a Deus por isso. Afinal de contas, trocaria TUDO, literalmente TUDO que recebi até hoje para poder voltar no tempo e aquela dor NA barriga do Heitor não passar de uma simples dor DE barriga... e apesar disso, não acredito que Ele fique triste ou decepcionado comigo... Sei que ele é meu amigo, e amigo íntimo ainda... Ele me conhece, sabe me entender e principalmente, sabe o quanto o amo, acredito que o que me difere das demais pessoas,é ter a coragem de falar enquanto tantas outras pensam,mas como sei que de Deus a gente não esconde nada,sou franca mesmo... Quantas vezes na nossa vida por motivos torpes, blasfemamos e fazemos injúrias com o seu nome? E por isso ele deixa de nos amar? Deixa de nos querer bem? A minha religiosidade precisa ser igual a de todas as pessoas? Porque eu preciso temer a Deus, se, na minha concepção, preciso somente amá-lo??? E se eu sequer acreditasse em Deus, isso faria de mim menos digna de expressar meu sofrimento???? 
Conheço inúmeras pessoas que possuem o coração maravilhoso e não acreditam em Deus. Outras tantas que acreditam e conseguem julgar o sofrimento alheio com tanta ferocidade que me assustam. E, óbvio, o inverso também é verdadeiro!!
Outra coisa: se quando eu sofro, eu gosto de gritar, chorar, etc, é porque é assim que consigo "assimilar" meu sofrimento... Tem pessoas que preferem se calar, outras que preferem ser otimistas, cada uma reage de um modo e é cruel fazer com que todas tenham a mesma atitude perante as dificuldades. 

Apesar de todas as dificuldades, procuro sempre buscar o meu lado mais divertido e otimista, mas nem sempre isso é possível...

Amigos, peço desculpas se por acaso magoei ou ofendi alguém, esta não é e nunca será a minha intenção. Somente gostaria de registrar que sou igual a todos vocês, também tenho meus maus momentos, momentos de fraqueza, de angústia e sim eu estou fazendo desse momento,um momento de crescimento,mas do meu jeito,com os meus passos,no meu tempo... 

Criei este blog para dividir com vocês o dia a dia desta luta, os tropeços, as vitórias, as dores e alegrias de nossa trajetória. Não sou exemplo de força, sou simplesmente uma mãe que deseja desesperadamente a cura de seu filho, e enquanto isso não acontece, peço que me compreendam e continuem a orar e emanar boas vibrações... e podem acreditar, que sem elas seria tudo muito mais difícil....

Beijos no coração de todos....






3 comentários:

  1. Marcela Querida! Entendo muito bem o seu desabafo e gostaria de muitas vezes ter esta coragem... ao contrario, eu me calo, me fecho, tenho todos esses seus momentos, mas sou eu mesma quem carrega todos os desconfortos, pois sou a paciente. Certa vez alguém me disse: "O carvalho, sendo uma árvore frondosa, suporta todas as intempéries como chuva, sol, frio, calor, vento... mas tem uma coisa que ele não resiste intacto. O carvalho quando atingido por um raio, racha de cima para baixo, dividindo em duas partes." Imagine nós, mero seres humanos... DEUS nos fez temperamentais, não Santos por direto, a santidade vem na luta do dia-a-dia e tenha certeza, ELE "te ama desse jeitinho que voce é", por isso lhe confiou dois LINDOS filhos e toda essa luta que tem que enfrentar em dose dupla, pois seu filhinho não sabe fazê-la por si só... Eu costumo dizer que, é muito facil encontrar solução para os problemas dos outros, dificil é estar dentro do problema e encontrar a solução mais sensata. Não fique preocupada com o alheio, foque em vc e seus filhos que o fardo já é grande. VOCE É UMA GUERREIRA! Bjs... Fique Na Paz!

    ResponderExcluir
  2. É isso aí Ma!!!! Deus gosta mesmo é dos sinceros.
    Talvez você já conheça a história de Gideão, na bíblia, quando um anjo apareceu pra ele e disse: o Senhor é contigo, homem valente! E sabe o que Gideão respondeu?

    "Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas.
    Então o Senhor olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?
    Juízes 6:13-15

    Então Ma, receba de Deus também essa palavra! Vai nesta tua força Marcela!

    ResponderExcluir